O Que Eu Aprendi Com A Síndrome da Impostora
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O Que Eu Aprendi Com A Síndrome da Impostora


De fato, nunca fui tímida. Sempre gostei de me expressar e independentemente da forma via nisso uma maneira de esconder a minha baixa auto estima. Eu considerava o humor a minha bengala. Nele eu tinha a impressão de que eu exercia um controle que era determinante para o nível de exposição que eu teria. Sabe aquela velha máxima: riam comigo, mas não riam de mim? Pois então, este sempre foi o meu mecanismo de defesa.

Por isso, entendo que para alguns pode ser uma surpresa este desabafo. Mas, durante a minha infância e até início da vida adulta eu não me achava bonita, inteligente, capaz.



Será que sou capaz? Existe mérito no que eu faço?


Eu não validava e não conseguia reconhecer qualquer conquista. Eu fingia. Fingia aceitar os elogios, os parabéns.


Não me achava merecedora, porque acreditava que os meus esforços não eram suficientes para ocupar a minha posição e que em algum momento eu seria descoberta. O meu lugar não era ali.


Pensava que existia a sorte e o acaso. Um descuido qualquer que me fez afortunadamente estar no lugar certo e na hora certa. Na minha cabeça eu sempre seria vista como a filha do Dono e, deste lugar não existe conquista, não tem mérito.


No meu inconsciente eu tinha que ser perfeita. Porque somente estes são vistos e reconhecidos. Portanto, a busca pela excelência era o meu objetivo, mas inegavelmente a frustração sempre acompanhava.



Auto exigência



Sempre fui melhor para os outros do que para mim, tolerar os meus erros era um exercício extenuante de auto compaixão que muitas vezes não conseguia praticar, pois eles significavam a comprovação da minha falta de inteligência, da minha incapacidade. Não existia pior carrasco. E essa auto exigência por si só era suficiente para abalar a minha autoconfiança.


Só consegui entender os meus porquês a partir do momento em que iniciei a terapia. Foi nela que identifiquei, ao olhar para dentro, a origem das minhas cobranças. Foi nesse processo de autoconhecimento que reconheci os meus padrões e, foi através dele que iniciei esta jornada de transformação.


Entendi que esta é uma questão que vai muito além da minha criação, existe uma raiz inexoravelmente histórica que infelizmente flerta com todas nós.



O Papel da Família - o Viés Individual



Sou a filha do meio de três mulheres, contudo, na prática sou a irmã mais velha. Dede, a primogênita, é deficiente.


Para os meus pais o diagnóstico da Andressa aos 09 meses de idade não foi fácil. Assim como não foi fácil assimilar todos os sentimentos que emergiram. A culpa, o medo, a dor são sentimentos que você carrega e aprende a lidar.


Então, quando nasci meus pais não estavam preparados. E, por anos sofri a pressão inconsciente de ser aquilo que a Andressa não poderia ser. Esta cobrança não era imposta, apesar disso, ficava claro para mim, a medida que crescia, tanto eu, quanto a Jéssica éramos a concretização de uma expectativa. E, como qualquer expectativa existe sim um ônus.


Não culpo os meus pais, enxergo aqui uma responsabilidade compartilhada, minha e deles, acredito que em algum momento eu aceitei assumir este papel. No entanto, isso tudo desencadeou uma série de questionamentos: será que sou boa o bastante? Não preciso ser mais? Fazer mais? Meu desejo sempre foi ser a filha perfeita para eles.


Concomitantemente existia uma outra questão incrustada no nosso subconsciente. Fomos criadas para não julgar e não sermos preconceituosas. Ao mesmo tempo, crescemos com a certeza que o mundo lá fora, na verdade, não é nada amigável. Ele julga e oprime.


Eu e a Jéssica, não entendíamos os olhares, o desconforto das pessoas. Na nossa cabeça todo mundo tinha uma Dede em casa. O nosso universo se resumia a nossa irmã e as nossas idas frequentes para as clínicas onde por muitos anos convivemos com crianças com as mais variadas síndromes e deficiências. Nós não entendiamos o julgamento, mas percebíamos que ele existia.



O Papel da Sociedade - o Viés Coletivo



Outro ponto que corrobora para esse sentimento de não merecimento e aptidão está no cerne da nossa própria sociedade. E, acredito que este é aquele com o qual a maioria das mulheres se identificam e para entendê-lo basta compreender o contexto social ao qual vivemos.


Olhando para trás, algo não muito distante, recordo nitidamente das minhas amigas de infância tendo que participar das aulas de práticas domésticas, enquanto os meninos tinham aulas de práticas comerciais.


Este é apenas um dos vários exemplos de condutas que reforçam os estereótipos e o diferencial de tratamento embasado exclusivamente na distinção entre os gêneros. Ou seja, uma sociedade baseada num sistema patriarcal, dominante em que a desigualdade de gênero persiste ainda hoje. Muitas de nós se ainda não o vivenciamos certamente presenciamos condutas que atestam estes comportamentos.


Claramente observamos isso hoje nos ambientes de trabalho onde a inserção feminina não acontece de maneira igualitária. No artigo publicado por Nana Lima, diretora do Think Eva no seu perfil do Linkedin ela diz:


“Quanto maior o seu senso de pertencimento a determinado local ou grupo, maior será a sua autoestima. Se você entrar em uma sala para fazer uma apresentação sobre um projeto e ninguém naquela sala se parece com você, pode ter certeza de que em algum momento surgirá uma dúvida interna sobre a sua capacidade e mérito para estar ocupando aquele espaço. Isso quando o próprio ambiente das empresas não reforça essa sensação de maneira contínua.”


Portanto, se você chegou até aqui e compartilha estes sentimentos mas, principalmente, se você se identifica com este contexto não se surpreenda, pois são muitas, muitas mulheres que dividem esta mesma sensação.



Síndrome da Impostora



Esta hesitação quanto a reconhecer e validar nossos próprios méritos e capacidades vem atrelada a uma auto percepção de que não somos qualificadas o bastante para exercermos as nossas posições. Além disso, muitas vezes conferimos ao acaso e a sorte as nossas conquistas. E, no fim, o que prevalece é o medo. Medo das máscaras caírem e sermos expostas pelo que realmente somos: verdadeiras fraudes.


O que acabei de descrever é o sentimento que acomete a maioria das pessoas que se identificam com a Síndrome da Impostora que apesar do nome, não se trata de uma patologia propriamente dita. No entanto, existem trabalhos que sugerem que este fenômeno trata-se de uma doença em função do impacto que ela exerce na vida das pessoas.


Segundo a World Health Organization a Síndrome da Impostora pode ser responsável por desencadear transtornos de ansiedade e/ou humor o que pode levar a necessidade de tratamento psicológico e, até mesmo, psiquiátrico.


A alcunha, Síndrome da Impostora, surgiu em 1978 após um estudo realizado por duas psicólogas, Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, que acompanharam cerca de 150 mulheres e identificaram que todas compartilhavam os mesmos receios: sentimentos de fraude, incapacitação, não merecimento e tendência a ignorar as evidências de suas próprias inteligências.


Apesar desta Síndrome ter o potencial de acometer a todos sem preconceito de gênero, a psicóloga Ellen Hendriksen observou que grupos de minorias e mulheres acabam sendo os mais acometidos. E algumas das razões estão diretamente associadas à cultura do patriarcado que até hoje impera em nossa sociedade.



Ressignifique



Mas a grande questão é: como lidar com estes sentimentos que minam a auto estima e levam a altíssimos níveis de auto exigência?


Para mim, tudo começa com o entendimento de que esta Síndrome existe. Eu sei, pode soar um tanto quanto estranho, mas a quantidade de mulheres que desconhecem a Síndrome da Impostora e se colocam neste “dark place” é incontável. Então, sair desta ignorância pluralística e trazer luz para este assunto é a maneira que temos para iniciar o processo de desconstrução desta auto percepção.


É preciso também dar-se a si um voto de confiança. Reconhecer e validar sua história, toda a construção da sua jornada. Já parou para pensar que este sentimento de falta de capacidade, na verdade, pode ser falta de preparo? E, esta OK! (Reflita sobre isso)


Por ex. a questão da Pandemia do Novo Coronavírus está trazendo à tona este sentimento de falta de capacidade, porém o que acontece é que todos nós fomos “convidados” a sair da nossa zona de conforto. Não se trata de incapacidade de lidar com a questão, o que estamos observando é uma falta de preparo para uma situação inesperada. O que precisamos é buscar ferramentas que nos permitam achar novas soluções para novos problemas. Explorar o nosso redor com uma mente de principiante. Aberta e pronta para observar tudo com um olhar de curiosidade.


Carol Dweck, no excelente Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso enfatiza a necessidade de usarmos a nossa mente ao nosso favor e para isso ela explica a distinção entre Mindset Fixo e o de Crescimento.


No primeiro lidamos com crenças imutáveis sobre nossas aptidões e habilidades. Ou seja, impossibilidade de aprimoramento, a velha máxima da pessoa ter um dom ou não ter nascido com tal aptidão. Enquanto, que no segundo ela afirma que temos sim a capacidade de nos desenvolvermos e que isso é possível através do esforço em busca de realizarmos todo o nosso potencial. Ou seja, com esforço e dedicação todos nos podemos sim alcançar grandes níveis de know how.


E, finaliza: “Os mindsets nada mais são do que crenças. São crenças poderosas, mas são apenas algo que está em sua mente, e você pode mudar sua mente. Pense aonde gostaria de ir e qual mindset pode levá-lo até lá.”


Portanto, o caminho para a autoaceitação e reconhecimento se encontra na desconstrução de antigos padrões. Está na auto compaixão e no amor próprio. Por isso que volto a importância desta jornada interna em busca do autoconhecimento. É através deste processo que iremos adquirir mais clareza de quem somos.

Claro, não estou dizendo que é fácil ou sequer imediato. Pois não é. Inclusive, não é infalível. Muitas vezes eu me pego em comparações e até mesmo na espera do reconhecimento do outro. E, sei que mesmo quando este reconhecimento vem, uma parte de mim ainda não o valida. E sabe, porque? É sempre de dentro e, não de fora.


Se eu não reconheço em mim, como poderei validar a visão, a percepção, a palavra do outro? Como sustentar um reconhecimento vindo de fora? Se eu mesma não os reconheço? O grande dilema é se você mesma não se reconhece, você, no fim, se esvazia.


Por isso, comecei a olhar para trás, resgatando todo o caminho que já percorri e comecei a mudar a maneira como eu encarava todo esse percurso. Eu comecei a ressignificar.



Como Lidar com a Síndrome da Impostora



Minha sugestão é: liste tudo. Coloque tudo num papel sem julgamentos, não importa se foi um ato grandioso ou não. Não siga necessariamente uma ordem. Faça essas anotações de forma livre, sem dar pesos. Olhe para o teu ontem e faça uma trilha de volta para o teu momento presente. Anote tudo e não julgue.


Não diminua as conquistas, enalteça-as. Faça isso todo dia um pouquinho, tenha um caderno. Anote uma só que seja. Olhe para elas e se aproprie do que você fez. E, se não fez sozinha: anote também porque você participou. Você contribuiu. Reconheça a si primeiro.


Quando você se entrega nesse processo você abre portas para validação e auto apreciação.


Questione a voz que fala: eu não vou conseguir.


Pense em DESAFIO.


Aprenda a ressignificar tanto os sentimentos quanto às palavras. Dê um novo sentido para encarar sob uma nova ótica. E, se você identificar que não dá conta. Ok. Ninguém precisa saber tudo e fazer tudo de prima. Prepare-se ou senão, peça ajuda. Crie parcerias, investigue mais o assunto, co crie com alguém que te complementa na área que você sente dificuldade. E, perceba que assentir a isso vai te trazer leveza e menos exigência.


Aprenda a reconhecer o que é seu. Valide toda a sua bagagem. Solidarize-se com você mesma e não tenha medo de compartilhar a tua jornada.



Compartilhe sua História



Eu percebi que falar sobre as minhas vulnerabilidades ao invés de me enfraquecer, me fortalece. Mais que isso acabei criando um espaço de pertencimento, onde mais mulheres se sentem vistas e compartilham comigo as suas experiências, transformando estas trocas numa verdadeira rede de apoio.


Por isso que acredito em compartilhar nossas histórias, pois elas podem ser o empurrão para o outro ir além dos seus medos e buscar as transformações que tanto anseiam!


E se você se identificou com a Síndrome da Impostora, mas sente dificuldade em se libertar destes sentimentos, procure ajuda especializada, não tenha receio. Pode ter certeza que este vai ser o maior e melhor investimento.



Aproveito e deixo como sugestão: compartilhe este post!! A ideia é criar não só um espaço de conversa e trocas, mas também construir essa rede de apoio!! ⁣

E se você gostou do artigo: compartilha comigo nos comentários!










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